Pescadores
artesanais cobram ações emergenciais de assistência ao grupo
Foto: Severino Ramos - Tamandaré/PE |
Esses fatores têm levado o grupo a depender de auxílios governamentais.
“O problema é que muitos pescadores não têm celular ou não sabem manusear bem a
internet, o que inviabiliza o acesso ao programa da bolsa emergencial. Alguns
deles sequer estão conseguindo efetivar o cadastro”, explica o educador social
do Conselho Pastoral dos Pescadores – Regional Nordeste, Severino Santos.
Para quem não tem Bolsa Família, o governo federal criou o Conta Fácil
Digital, que também não é simples de usar. “O pescador precisa entrar no link
da Caixa Econômica, tem que baixar o código até duas horas antes de ser
atendido, mas se passar desse prazo o código expira e ele fica sem acesso ao
direito”, alerta o educador social.
Outra questão que vem tirando o sono dos pescadores é o funcionamento
das lotéricas e das agências da Caixa. “A maior parte das lotéricas não têm
dinheiro para fazer os pagamentos. O pescador enfrenta filas enormes e, na hora
de receber, fica lá esperando ou faz uma transferência para uma conta pessoal.
Depois tem que entrar numa nova fila para poder sacar em outra agência ou no
caixa 24h”, relata Severino. A isso se soma a precariedade do atendimento, com
agências fechadas por problemas estruturais ou porque ficam dentro de
shoppings, e outras sem estrutura para atender.
VENDAS – A comercialização do
pescado proveniente da pesca artesanal está praticamente paralisada, causando
prejuízos enormes a essa cadeia produtiva. “Em municípios como Itapissuma e
Itamaracá, onde o comércio local de pescado está vinculando a culinária local e
ao turismo, as vendas tiveram queda de mais 90%, pois bares e restaurantes se
encontram fechados”, diz o professor titular de sociologia da UFPE, Cristiano
Ramalho. Situação similar acontece no Litoral Sul de Pernambuco.
Outro aspecto que preocupa é a saúde nas comunidades pesqueiras. “Temos
ouvido que, em muitas localidades, pescadores estão com medo de falar que estão
com sintomas da Covid-19, temendo descriminação. Além disso, têm muita
dificuldade de garantir o isolamento da pessoa doente e da família, pois as
moradias são pequenas”, comenta o professor. Esses fatores têm levado o
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais a cobrarem das autoridades
municipais, estaduais e federais ações emergenciais e concretas de assistência
às comunidades de pesca.
IMPORTÂNCIA –Em todo o Nordeste,
cerca de 500 mil pescadores artesanais produzem mais de 70% do pescado que
chega à mesa de um milhão de famílias da Região. Pertencente a uma das
culturas tradicionais mais importantes do Brasil, o grupo emprega vinte e cinco
vezes mais trabalhadores do que a pesca industrial no Brasil. Ao todo, são mais
de um milhão de pescadores credenciados no Registro Geral de Atividade
Pesqueira (RGP).
Segundo cadastro realizado pelas comunidades pesqueiras, associações e
colônias de pescadores, em 2019, o número de pescadores artesanais no litoral
pernambucano é de mais de 11 mil. Na Zona da Mata, Agreste e Serão são
aproximadamente 5 mil pescadores artesanais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário