sexta-feira, 8 de maio de 2020

Comunidades pesqueiras sofrem prejuízos com avanço da Covid-19.


Pescadores artesanais cobram ações emergenciais de assistência ao grupo

Foto: Severino Ramos - Tamandaré/PE
Com o prolongamento do isolamento social, por conta da Covid-19, os pescadores artesanais continuam enfrentando uma série de dificuldades para garantir o seu sustento. Além dos prejuízos causados pelo derramamento de petróleo, que se alastram até hoje, as comunidades pesqueiras agora não estão conseguindo vender sua produção, por conta do fechamento do comércio.
Esses fatores têm levado o grupo a depender de auxílios governamentais. “O problema é que muitos pescadores não têm celular ou não sabem manusear bem a internet, o que inviabiliza o acesso ao programa da bolsa emergencial. Alguns deles sequer estão conseguindo efetivar o cadastro”, explica o educador social do Conselho Pastoral dos Pescadores – Regional Nordeste, Severino Santos.
Para quem não tem Bolsa Família, o governo federal criou o Conta Fácil Digital, que também não é simples de usar. “O pescador precisa entrar no link da Caixa Econômica, tem que baixar o código até duas horas antes de ser atendido, mas se passar desse prazo o código expira e ele fica sem acesso ao direito”, alerta o educador social.
Outra questão que vem tirando o sono dos pescadores é o funcionamento das lotéricas e das agências da Caixa. “A maior parte das lotéricas não têm dinheiro para fazer os pagamentos. O pescador enfrenta filas enormes e, na hora de receber, fica lá esperando ou faz uma transferência para uma conta pessoal. Depois tem que entrar numa nova fila para poder sacar em outra agência ou no caixa 24h”, relata Severino. A isso se soma a precariedade do atendimento, com agências fechadas por problemas estruturais ou porque ficam dentro de shoppings, e outras sem estrutura para atender.
VENDAS – A comercialização do pescado proveniente da pesca artesanal está praticamente paralisada, causando prejuízos enormes a essa cadeia produtiva. “Em municípios como Itapissuma e Itamaracá, onde o comércio local de pescado está vinculando a culinária local e ao turismo, as vendas tiveram queda de mais 90%, pois bares e restaurantes se encontram fechados”, diz o professor titular de sociologia da UFPE, Cristiano Ramalho. Situação similar acontece no Litoral Sul de Pernambuco.
Outro aspecto que preocupa é a saúde nas comunidades pesqueiras. “Temos ouvido que, em muitas localidades, pescadores estão com medo de falar que estão com sintomas da Covid-19, temendo descriminação. Além disso, têm muita dificuldade de garantir o isolamento da pessoa doente e da família, pois as moradias são pequenas”, comenta o professor. Esses fatores têm levado o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais a cobrarem das autoridades municipais, estaduais e federais ações emergenciais e concretas de assistência às comunidades de pesca.
IMPORTÂNCIA –Em todo o Nordeste, cerca de 500 mil pescadores artesanais produzem mais de 70% do pescado que chega à mesa de um milhão de famílias da Região. Pertencente a uma das culturas tradicionais mais importantes do Brasil, o grupo emprega vinte e cinco vezes mais trabalhadores do que a pesca industrial no Brasil. Ao todo, são mais de um milhão de pescadores credenciados no Registro Geral de Atividade Pesqueira (RGP).
Segundo cadastro realizado pelas comunidades pesqueiras, associações e colônias de pescadores, em 2019, o número de pescadores artesanais no litoral pernambucano é de mais de 11 mil. Na Zona da Mata, Agreste e Serão são aproximadamente 5 mil pescadores artesanais.

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