quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Jose, Dom de Deus, Irmão Conosco, Pescador de Sonhos, Agricultor de Esperanças, Voz dos Pobres...


 
Com pesar recebemos a notícia do falecimento de Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito da Diocese de Juazeiro na Bahia. Nesse dia 09 de setembro a região do Vale do São Francisco, mas também os pescadores e pescadoras perderam uma referência das lutas sociais: Dom José Rodrigues. O bispo emérito de Juazeiro vai ficar sempre na história dos pobres e perseguidos por sua coragem, simplicidade e inovação.

Com certeza muitos já falaram do grande mérito que acompanhava este bispo no meio do povo sofrido do semi-árido do Nordeste. Ele mesmo disse anos atrás, que foi este povo sofrido e perseguido, sem vez nem voz, que ajudou na sua conversão radical ao Evangelho de Jesus Cristo e sua opção decidida pelos pobres. Com certeza muitos lembraram na sua atuação no meio dos reassentados da barragem de Sobradinho, da sua atuação na comunicação corajosa dos valores de justiça e compaixão para com o povo através de rádio e jornal. Outros já falaram disso tudo e de uma maneira bem clara e exaustiva.

Nós queremos aqui lembrar o nosso convívio com Dom José como primeiro “Presidente” do Conselho Pastoral dos Pescadores. A missão desta pastoral: “Anunciar aos pescadores e as pescadoras a força libertadora do evangelho revelado aos pobres e através deles promover a transformação das estruturas geradoras de injustiça, tornando-os agentes de sua história e construtores de uma nova sociedade” já era exercida na sua diocese pela Pastoral da Terra com e no meio dos pescadores do Rio São Francisco e do Lago de Sobradinho.

Na Assembléia da fundação oficial do Conselho Pastoral dos Pescadores em 1988 em Olinda – PE Dom José Rodrigues foi lembrado e unanimemente aceito para ser o primeiro Presidente da Pastoral, pois naquela época ouvimos da atuação deste bispo a favor dos pescadores do Rio São Francisco e do Lago de Sobradinho. Frei Alfredo se encarregou a consultar e pedir ao bispo que aceitasse esta tarefa de animar e encorajar não só os agentes de pastoral, mas também os próprios pescadores e pescadoras artesanais deste Brasil afora. Prontamente Dom José aceitou o convite e a partir deste momento sempre participava das nossas assembléias e reuniões de planejamento. Na sua diocese animou os seus agentes de pastoral a fundar também uma Pastoral dos Pescadores. Quantas vezes ele visitou conosco os pescadores nas praias do Ceará, Rio Grande do Norte, Pará, Maranhão, Alagoas e Pernambuco!

Como era importante a sua presença e orientação nos trabalhos da Pastoral dos Pescadores. Ele, como Bispo da Igreja, abriu as portas para os agentes da Pastoral dos Pescadores em muitas dioceses e paróquias onde se encontravam pescadores e pescadoras abandonados pelas autoridades civis e muitas vezes esquecidos pela própria Igreja. Nas Assembléias Gerais da CNBB ele sempre fazia propaganda no meio dos seus colegas bispos da existência de milhares de pescadores e pescadoras que necessitam a atenção da Igreja e que são realmente o público preferido do Santo Evangelho de Cristo.

Dom José será sempre lembrado como o homem simples, conhecido até mesmo pelas roupas que costumava usar. Dom José será lembrado pelos pescadores e pescadoras que hoje ainda se lembram da sua presença nas suas casas na praia, pelas missas que ele celebrava nas caiçaras. Serão muitas lembranças e a sua pessoa será lembrada, mesmo com o passar do tempo.

Esperamos continuar trabalhando o que dele aprendemos. Nossos projetos sempre terão umas idéias dele e isso servirá também para a formação dos novos agentes de pastoral dos pescadores.

         Olinda, 11 de setembro de 2012
 
 
Conselho Pastoral dos Pescadores

segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Morreu o profeta do semiárido.
Roberto Malvezzi (Gogó)
D. José José Rodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou. Chegou em 1975.
Aqui era área de segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelo presidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares. Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72 mi relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a causa do povo.
Depois enfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez o opção radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do regime militar.
Quando um gerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou sob a mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a Petrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamento de um deles.
Abrigou na diocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos de estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quis fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido.
Costumava contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade.
Quando foi embora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração.
Na celebração de despedida afirmou na catedral: “nunca trai os pobres, nem em época de eleição”.
D. José faleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro.
Seu corpo será transladado para Juazeiro na segunda-feira, onde será enterrado. Aqui, sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

LANÇAMENTO DA CAMPANHA DO TERRITÓRIO PESQUEIRO NO SERTÃO DE PERNAMBUCO

A campanha do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil, MPP, que tem como objetivo conseguir reunir 1.385 mil assinaturas para dar entrada em um projeto de lei de iniciativa popular no congresso nacional chega ao sertão do Pajeú e as margens do Rio São Francisco.

       A Campanha Nacional pela Regularização dos Territórios das Comunidades Tradicionais Pesqueiras entra em uma nova fase depois do sucesso no lançamento nacional, ocorrido em Brasília no mês de junho.  Agora pescadores e pescadores do Brasil estão realizando lançamentos nas suas regiões para alargar o debate sobre os desafios enfrentados pelas comunidades pesqueiras e promover a coleta das 1.385.000 (um milhão trezentos e oitenta e cinco mil) assinaturas.

       Em Pernambuco aconteceu no mês de agosto um seminário promovido pela Fundarj em conjunto com o Ciclo de Palestras De Frente Pra Costa. Agora é a vez do Sertão do Pajeú receber a caravana com 30 pescadores e pescadoras dos litorais norte e sul para se unirem e trocarem vivências com os do Rio São Francisco. Será duas grandes atividades, uma em Serra Talhada e outra em Petrolândia.

1º Seminário de Extensão Pesqueira e Desenvolvimento LocalDesafios e perspectivas da pesca artesanal no sertão do Pajeú. É uma realização da Unidade Acadêmica da UFRPE em Serra Talhada nos dias 26 e 27 e será a primeira parada da caravana. Os debates deverão girar em torno de ações e políticas públicas para a utilização de corpos d´água no sertão e o fortalecimento da pesca artesanal. Terminando o primeiro dia com o lançamento da Campanha.
3º Seminário da Pesca Artesanal do Sertão do São Francisco - Território Pesqueiro: Biodiversidade, cultura e soberania alimentar. Já em Petrolândia, nos dias 28 e 27, o lançamento ocorrerá dentro do Novenário do São Francisco, que debaterá sobre a Organização dos Pescadores, e legislação pesqueira. O lançamento da Campanha na região do São Francisco acontecerá no segundo dia com a participação de aproximadamente 500 pessoas e será um momento muito especial, pois a cerimônia acontecerá na beira do rio.

SOBRE A CAMPANHA
Atualmente quase 70% da produção nacional é proveniente da pesca artesanal, o que tem garantido a segurança alimentar e nutricional de milhares de comunidades pesqueiras no Brasil. Ao longo da história os pescadores e pescadoras artesanais desenvolveram uma série de saberes, fazeres e sabores, estabeleceram uma relação bastante peculiar com os recursos naturais, garantindo a preservação dos seus territórios tradicionais, bem como a sua reprodução física, social e cultural.
Na contramão, o Estado brasileiro sempre desconsiderou a importância econômica, social e cultural da pesca artesanal. Atualmente desenvolve uma série de políticas, favorecendo os empresários e latifundiários, flexibilizando a legislação ambiental, a fim de promover a expansão do agro e hidronegócio. As áreas de preservação permanente, manguezais e matas ciliares, bem com as unidades de conservação (RESEX e RDS), são as mais ameaçadas pelo o avanço dos grandes projetos econômicos. A existência do patrimônio cultural dos pescadores e pescadoras artesanais, que compõem os territórios tradicionalmente utilizados pelas comunidades pesqueiras está prestes a ser extinto.
O MPP propõe a realização da Campanha Nacional pela Regularização do Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras, como uma estratégia importante para envolver o conjunto da sociedade neste debate e ao mesmo tempo construir instrumentos legais, que aliado à resistência e articulação das comunidades sirva como ferramenta de luta para a preservação do território e para efetivação dos direitos dos pescadores e pescadoras artesanais no Brasil.

             SOBRE A PESCA ARTESANAL
A pesca artesanal é um modo de vida e de lidar com a natureza, através da história e da cultura, com raízes profundas passadas de geração a geração. Mais do que uma profissão é um trabalho livre, de regime autônomo e coletivo, tendo o conhecimento da natureza como principal base de sustentação.

             SOBRE O MPP
O Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil nasceu da necessidade das comunidades pesqueiras, em ter uma representação frente ao poder público e que pudesse aglutinar o país numa única voz. Em 2009 para defender a pesca artesanal, reivindicar as demandas e encaminhá-las os órgãos públicos nasce o MPP. O objetivo é articular e organizar os pescadores e pescadoras para empoderá-los dos seus direitos de identidade cultural, de pesca, de moradia e de ir e vir, enfrentando os desafios de permanecer em seus territórios e a omissão de políticas públicas. Hoje cerca de 50 mil pescadores e pescadoras do mar, dos açudes e dos rios por todo Brasil participam do debate e das ações do MPP.

Conselho Pastoral dos Pescadores NE
Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcanti, 4688, Olinda
E-mail:cppne@hotmail.com
Blog.:cppnenordeste.blogspot.com
site:cppnac.org.br

Tel. 81 3012-1417