quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais e Articulação das Pescadoras Artesanais demandam soluções urgentes para os prejuízos causados pelo derramamento de petróleo nas comunidades pesqueiras



           O Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Pernambuco (MPP-PE) e a Articulação Nacional das Pescadoras Artesanais de Pernambuco (ANP-PE) participaram de audiência pública, nesta terça-feira (3), na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). No encontro, que teve início às 9h, pescadores de todo o Estado trouxeram mais a vez a público o impacto nefasto do derramamento de petróleo no meio ambiente, na sua saúde e na economia das comunidades pesqueiras atingidas e não atingidas pelo crime socioambiental.
            Mediada pela deputada do coletivo Juntas (PSOL), Kátia Cunha, a mesa foi composta pela agente pastoral Ornela Fortes de Melo, do CPP Regional Nordeste, pela representante da ANP-PE e pescadora artesanal, Joana Mousinho e pelos professores da UFPE e do Comitê SOS Mar, Cristiano Ramalho e Beatriz Padovani. Também participaram do debate a pesquisadora da Fiocruz, Aidê Gurgel; o representante do Ministério Público de Pernambuco, André Felipe Menezes; a secretária do Meio Ambiente do Estado, Inamara Melo; o deputado estadual pelo PCdoB, João Paulo, e o representante da ONG Caranguejo Uçá, Rodrigo Lima, dentre outros. 

Pescadores e pescadoras do Litoral Norte, do Litoral Sul e Pescadores Urbanos lotaram o salão e, durante o debate, se pronunciaram através de depoimentos, músicas e palavras de ordem sobre os prejuízos causados pelo desastre socioambiental na vida de suas comunidades. Além de não conseguir comercializar sua produção, devido ao temor de contaminação, o grupo considera ineficiente o auxílio emergencial previsto pelo governo federal, via Medida Provisória 903/2019, que não contempla todos os pescadores. 


Para se ter uma ideia, somente 8 mil pescadores dos 30 mil que trabalham em Pernambuco devem receber os R$ 1.996, pagos em duas parcelas pelo Ministério da Cidadania e por meio da Caixa Econômica Federal. Há três meses a categoria está com as atividades paralisadas e perdeu sua fonte de renda com a queda de venda dos seus produtos, devido ao petróleo que atingiu o litoral do Nordeste.

INSUFICIENTE - Joana Mousinho, da ANP-PE, reforçou que a medida provisória é insuficiente, pois só inclui quem tem o Registro Geral da Pesca, conhecido como carteira de pescador. “Desde 2012 não são emitidas novas carteiras e quem tem o protocolo não tem acesso a nada. Não estamos pedindo favor, estamos brigando pelos nossos direitos. Onde o petróleo não chegou também sofremos as consequências. Já está faltando pão na nossa mesa”, alertou Joana. 


Segundo a secretária do Meio Ambiente do Estado, Inamara Melo, o governo estadual vem se empenhando na busca de soluções. “Toda cobrança que é feita é devida e temos buscado, desde o primeiro instante, prestar a devida assistência aos pescadores”, disse. “Pedimos ao governo federal a aceleração da medida provisória e ações têm sido feitas para incluir a todos. Mas, a MP também exclui por causa da não inclusão dos pescadores nesse cadastro. Pedimos o apoio de vocês para organizar essa lista por município, com apoio das instituições e colônias de pesca”, solicitou. 

PARALISADA – De acordo com o sociólogo Cristiano Ramalho, a UFPE está mobilizada e professores e alunos estão se organizando em torno de pesquisas, desde a chegada do petróleo na costa do Nordeste. Para o professor, é necessário ouvir as comunidades pesqueiras e construir com elas o levantamento de dados para o cadastro. Ele alertou que independente de qual comunidade foi ou não atingida, a economia pesqueira está paralisada. Por isso, não decretar o estado de emergência não é uma justificativa plausível do ponto de vista econômico. “O governo do Estado transfere todas as obrigações para o governo federal, mas ele tem corresponsabilidade nessa solução. Até agora, o governo estadual não apresentou concretamente nada”, disse.  

Em levantamento realizado entre 24 de outubro e 26 de novembro, os pesquisadores apuraram dados sobre a economia pesqueira no Estado. “Verificamos que as vendas da ostra, sururu, caranguejo sofreram uma queda de até 90%. Inclusive, muitas famílias deixaram de ir para a maré, porque a venda do pescado de alto caiu até 70%. Até o salmão importado do Chile teve uma queda entre 60% e 70% no consumo”, explicou.

PAUTA – Após a audiência, os pescadores e pescadoras saíram da Alepe em direção ao Palácio do Campo das Princesas, por volta das 13h, com o objetivo de entregar pessoalmente ao governador Paulo Câmara a pauta de reivindicações assinada pelo MPP-PE, pela ANP-PE e pelo Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP-NE). 

Uma comissão formada por representantes de 13 municípios pernambucanos foi autorizada a entrar no palácio, onde foi recebida pelo secretário executivo de articulação e projetos especiais do Estado, Eduardo Figueiredo, e o secretário executivo da Casa Civil, Antônio Limeira. 

Após a entrega do documento, ficou acordada uma nova reunião para o dia 12 de dezembro, às 9h, na sede do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). O encontro deverá contar com representantes de todas as secretarias do Estado, da Comissão dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, bem como do coletivo Juntas (PSOL).

Texto e foto: Veronica Fox e Severino Santos

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