Profissionais da pesca
artesanal protestam contra obras de dragagem no Porto de Suape
que provocam danos ao meio
ambiente e prejuízo à atividade pesqueira.
Membros da Associação dos Pescadores e Pescadoras Profissionais em
Atividade do Cabo de Santo Agostinho, da Associação dos Moradores da Ilha de
Tatuoca e da Colônia de Pescadores Z-08 do Cabo, com apoio do Conselho Pastoral
dos Pescadores do Nordeste, realizam ato público na próxima terça-feira (31),
na Ilha de Tatuoca, saindo da praia de Suape, a partir das 9h. O ato denuncia
os danos ambientais provocados pela nova obra de dragagem, na parte interna do
Complexo Industrial do Porto de Suape, incluindo a área da Ilha de Tatuoca. A
intervenção, que dá continuidade à ampliação do complexo de estaleiros navais
instalados no Porto, tem início previsto para o final deste mês.
Frente à iminência do empreendimento, na última quarta-feira (18),
lideranças de pescadores solicitaram a intervenção urgente do Ministério
Público Federal (MPF). Além de apelar para a preservação dos manguezais e do
ecossistema da região, no documento, os pescadores reclamam da falta de diálogo
e informação. “O Complexo de Suape simplesmente nos comunicou, poucos dias
atrás, que realizará a dragagem, mas não pediu a nossa opinião ou nos informou
sobre os impactos esperados. Estamos muito apreensivos, porque esse mesmo tipo
de obra já foi feita no passado e trouxe grandes danos ao meio ambiente que
perduram até hoje, em todo o litoral sul”, destaca Evangelista.
CONDENADOS – Em outubro do ano passado, Suape e a Agência Estadual do Meio
Ambiente (CPRH) foram condenados em uma ação civil pública
movida pelo MPF, a partir de denúncia da Colônia Z-08, por danos
socioambientais oriundos dos processos de dragagens do canal externo e pela
localização inadequada dos Bota Fora 1 e 2. Estes são os locais de descarte de
resíduos da dragagem, que ficam dentro do mar, e causam problemas porque ficam
em cima de pesqueiros. “A continuidade das obras, agora na Ilha de Tatuoca,
mostra que mesmo após condenação na justiça federal, Suape continua
desrespeitando os direitos das comunidades tradicionais pesqueiras”, constata
Evangelista.
A CPRH também autuou diversas vezes Suape por crimes ambientais,
mortandade de espécies protegidas por lei, além do impacto e destruição de
territórios pesqueiros entre os municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo
Agostinho. “Espécies de grande importância para a economia do nosso litoral
foram quase extintas e as comunidades pesqueiras, que dependem desse
ecossistema para trabalhar, também”, denuncia Evangelista.
PARTICIPAÇÃO-
Pescadores artesanais são considerados comunidades
tradicionais pelo Decreto 6040 que instituiu a Política Nacional de Povos e
Comunidades Tradicionais. Por ser signatário da Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil deve garantir os direitos dessas
populações. Dentre eles, realizar processos participativos que permitam que as
comunidades escolham as prioridades para o seu desenvolvimento e sejam
consultadas previamente sempre que uma medida administrativa ou legislativa as
afete diretamente.
O Conselho Pastoral dos Pescadores lembra que a instalação dos
estaleiros Atlântico Sul e Vard Promar provocou remoção e expulsão étnica e
social na região. “Dezenas de famílias nativas de pescadores e agricultores
familiares foram banidas, sem falar que as vegetações de mangue e mata
atlântica vêm sendo destruídas”, alerta o educador social do CPP-NE, Bill
Santos.
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