TEMPO DE INCERTEZAS E ESPERANÇA
CARTA DO SEMINÁRIO NACIONAL
Reunidos em Brasília entre 27 e 30 de novembro de 2018, nós participantes do FÓRUM
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL tornamos pública esta Carta em
momento histórico de incerteza e insegurança. Tempo que nos convoca à esperança.
Na contramão da História recente, o governo eleito em outubro deste ano
anuncia políticas que aprofundarão o abismo das desigualdades de renda,
riqueza, liberdade e condições de vida em todo o Brasil. A cultura do pensamento
único buscará substituir o diálogo e a liberdade de opinião e de expressão.
Que efeitos terão o desmonte do poder regulador do Estado, a privatização de
propriedades públicas estratégicas e a entrega das nossas empresas e bens
naturais, protegidos pela Constituição, a corporações transnacionais? Aqueles
que deverão governar o Brasil até 2022 trazem a desproteção social e ambiental
através de contrarreformas da previdência e trabalhista e da mercantilização
da Natureza. As perseguições aos que lutam por seus direitos, em particular os
movimentos de mulheres, as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas,
também fazem parte deste contexto. A população brasileira sofrerá mais com
o aumento da exploração e da opressão. A Nação empobrecerá com a perda da
soberania sobre seu território e suas riquezas.
A desistência do Brasil em sediar a COP25 - a Conferência do Clima de 2019
- teria o intuito de encobrir a política anunciada de intensificação da entrega
da Amazônia, das águas - inclusive as subterrâneas - e das riquezas vegetais
e minerais à ganância do capital transnacional, consolidando a renúncia à
soberania nacional com a cumplicidade do Exército brasileiro? Isto ameaça
a subsistência de todas as formas de vida, inclusive dos povos das águas, da
floresta e dos campos, e altera radicalmente o equilíbrio climático de todo o
planeta. Estas imposições do modelo de desenvolvimento econômico predatório
beneficiam o grande capital transnacional e comprometem também a vida em
todos os biomas.
Por outro lado, as ações de resistência com base no anseio pelo Bem Viver e
pelas relações solidárias entre as pessoas e com os ecossistemas têm se
fortalecido através do engajamento de entidades e comunidades em redes de
atuação organizadas pela defesa dos bens comuns como patrimônio da Terra
e dos seus povos, portanto, não privatizáveis. Estamos construindo um modo
de vida que parte dos territórios geridos pelas comunidades locais e pelos
seus habitantes, que são os primeiros interessados num ambiente acolhedor
e protegido. A autogestão desses territórios é o caminho para a soberania
alimentar e nutricional com base agroecológica. Como guardiãs da integridade
dos ecossistemas, estas comunidades são sujeitos ativos no planejamento e
implementação do desenvolvimento socioeconômico e técnico baseado nas
suas próprias demandas. Isto implica o resgate do papel do Estado como indutor
do empoderamento democrático da população.
Diversas iniciativas demonstram que estas ações de resistência e inovação já
estão em marcha, tais como a campanha Água Nossa de Cada Dia, o Tribunal dos
Povos do Cerrado 2019, o Pantanal Sem Limites, a Campanha da Fraternidade
sobre políticas públicas, a Campanha das Cisternas no Semi-Árido, a campanha
Territórios Pesqueiros, a Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil, o
Fórum Social Panamazônico e a rede nacional de cooperativas Concrab do MST,
que fecha cada ano com uma Feira Nacional da Reforma Agrária.
Defendemos uma visão multilateral da Governança Global, onde a hierarquia
cede lugar à Democracia e a Cidadania Planetária une os povos, irmanados na
nossa Casa Comum.
Defendemos o esforço intensivo para inverter até 2020 a tendência de aumento
das emissões de gases de efeito estufa e estancar urgentemente o desastroso
aquecimento global.
Defendemos a superação da Soberania solitária dos nacionalismos fascistas
pela Soberania Solidária, que acolhe com respeito mútuo a diversidade dos
povos e das suas culturas.
Frente ao comprometimento das entidades do Fórum em investirem na
formação para a comunicação e a educação populares, vislumbramos diversas
possibilidades para o fortalecimento de práticas transformadoras e para a
formação de sujeitos críticos e cientes da força multiplicadora dos ideais de paz
e justiça. O objetivo é ir além da resistência, que por vezes é reativa e limitada
à pauta determinada pelos detentores do poder político e econômico. Mais do
que isto, é importante resgatar o potencial revolucionário da unidade que pode
nascer somente da diversidade trazida por cada ser e por cada realidade.
Unimo-nos às redes de cidadãs e cidadãos planetários para lançarmos juntos o
Apelo às Consciências e a Ágora dos Habitantes da Terra, celebrando os 70 anos
da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10.12.18, em defesa da Vida
do planeta e do Bem Viver como ideal unificador de todos os povos em igual
dignidade, liberdade e irmandade.
“A Terra espera ardentemente Práticas Humanas para Libertar-se”
Novembro de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário