CARTA
DO CONGRESSO DOS PESCADORES E PESCADORAS DA
BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO
As
Barragens retiraram a vida e o espírito do Velho Chico. Para devolver esta
vida, como tem
feito algumas nações do mundo, RETIREM AS BARRAGENS DO SÃO FRANCISCO!
É com
esse espírito de luta para devolver o fôlego de vida ao Velho Chico, que nós
Pescadoras e Pescadores Artesanais do Rio São Francisco reunidos nos dias 01 a
03 de Abril na Ilha do Fogo, entre Petrolina-PE e Juazeiro-BA, fizemos ecoar
desde a Nascente até a Foz, o GRITO DO RIO E SEU POVO NA BUSCA DO BEM VIVER,
tema que invocou as forças místicas da ancestralidade das comunidades
tradicionais pesqueiras no Congresso de Bacia.
Com o
lema “Pescadores e Pescadoras Artesanais: Raiz de Esperança em Defesa da
Identidade dos Territórios Pesqueiros e pela Revitalização Popular do Velho
Chico”, discutimos e constatamos que as nossas comunidades tradicionais
vivenciam uma das maiores crises já vistas, provocadas pelo avanço do agro e
hidro negocio e pelo trágico modelo energético.
Perturbam-nos
fortemente, em nosso pensar e em nossa existência, que pela primeira vez na
história do Velho Chico sua nascente secou, o lago de Sobradinho chegou à cota
zero e o mar avança vertiginosamente sobre seu leito, sinalizando o nível de
vulnerabilidade socioambiental de toda a Bacia do São Francisco, num momento em
que o mundo inteiro faz pensar sobre as ocorrências das mudanças climáticas,
que nos alertam para um maior cuidado com a casa comum.
Compreendemos
que nosso território acompanha o movimento incessante das águas cujo limite é
invisível, no entanto, os famigerados projetos capitalistas põem em risco a
nossa existência e a do rio com as velhas barragens hidrelétricas que já
expulsaram mais de 250 mil pessoas de seus territórios e são responsáveis pela
destruição do percurso natural do Rio. Tudo isso, a serviço de um modelo
energético que compromete as águas, as lagoas marginais,a vazão do rio, a reprodução
dos peixes e impedem o acesso à terra e à água, além da agricultura de vazante.
O agro
e hidro negócio com seus altos índices de agrotóxico contaminam a terra e a
água, destroem nascentes, afluentes, aguas subterrâneas, adoecem humanos,
destroem os ecossistemas do Cerrado, Caatinga e Manguezais para dar lugar aos
grandes projetos como a ampla irrigação de monocultivos, carcinicultura,
tilapicultura, mineração,turismo intensivo que aniquilam as culturas
tradicionais e o nosso modo de vida.
Como se
não bastasse, esse modelo de desenvolvimento predador propõe a construção de
mais hidrelétricas, usinas nucleares e parques eólicos que ameaçam os
territórios e comprometem ainda mais a vida do Velho Chico. A transposição, tão
combatida por nós, virou instituição política de sustentação de empreiteiras
com obras infindáveis para fortalecer a velha e nova indústria da seca. Pior do
que isto, é a insana proposta de transpor as águas do rio Tocantins como forma
de intensificar o problema, privilegiando o modelo do agronegócio.
As
circunstâncias da conjuntura da bacia do São Francisco nos remetem à atual
crise econômica e política brasileira, que ameaça o funcionamento das
instituições democráticas e a soberania popular. Este governo passa por maiores
vexames porque não abriu mão desse modelo econômico de morte que destrói a mãe
terra, com seu povo e todas as formas de vida. Diante disto, não aceitamos
perder mais nenhum direito conquistado. Pelo contrário, queremos avançar para
um desenvolvimento popular inclusivo e verdadeiramente sustentável!
Reivindicamos
politicas efetivas para salvar os biomas: Cerrado, Caatinga e Manguezais, como
forma de proteger as nossas matas, nossas águas e nossos estoques pesqueiros.
Reivindicamos
uma politica de combate ao uso de agrotóxicos e afirmamos nosso compromisso com
a Campanha contra os agrotóxicos e pela soberania alimentar. Exigimos um modelo
agroecológico que garanta o modo de vida sustentável de nossas comunidades.
Combatemos,
de maneira veemente, o racismo ambiental, promovido por empresas privadas e
governamentais como a Chesf, Agrovale, Votorantim Metais, Codevasf entre outras
empresas, inclusive os governos municipais responsáveis pelo saneamento básico.
Para isto, exigimos a efetivação do Plano de Saneamento Básico e Biológico que
atenda urgentemente toda a Bacia.
Repudiamos
aos falsos programas de revitalização e exigimos seriedade e empenho por uma
efetiva Revitalização Popular do Rio, que seja integrada, inclusiva e
permanente e que respeite o protagonismo das comunidades tradicionais
pesqueiras. Afirmamos que uma verdadeira Revitalização Popular passa primeiro
pelo reconhecimento de nossas identidades e pela regularização dos territórios
pesqueiros.
Assumimos
o compromisso com a construção de um Plano Popular para a Pesca Artesanal na
Bacia do São Francisco e CONCLAMAMOS todo o Povo do São Francisco ao
compromisso com a Revitalização Popular na busca do Bem Viver.
Ilha do
Fogo Petrolina/PE
03 de
Abril de 2016
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