terça-feira, 22 de abril de 2014

Grupo de jornalistas alemães conhece a realidade do Litoral Sul de Pernambuco

Na manhã da última quinta-feira, 10 de abril, jornalistas ligados a Adveniat, organização Católica da Alemanha, conheceram a praia do Paiva e a região de Suape, ambas no Litoral Sul de Pernambuco. A visita foi facilitada por representantes do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e pescadoras/es artesanais das localidades que puderam mostrar de perto os conflitos que as comunidades pesqueiras enfrentam devido ao modelo de desenvolvimento adotado pelo Estado.
O primeiro destino foi a praia do Paiva, onde, longo na entrada, o grupo deparou-se com a necessidade do pagamento de uma taxa para ingressar no local, privatizado pelo grupo Brennand e pela Odebrecht Realizações Imobiliárias. Enquanto isso, na beira-mar, pescadores aguardavam a equipe para uma entrevista. Depois de esperarem por mais uma autorização para entrarem na praia, os jornalistas enfim encontraram os trabalhadores.
As comunidades pesqueiras, que há mais de 70 anos usam o local para o trabalho, hoje encontram
cada vez mais dificuldades para acessar esse litoral e garantir o sustento de suas famílias. O pescador Raimundo explicou que o grupo Brennand e a Odebrecht só permitem o uso de uma parte específica da praia para a pesca.
A conversa no Paiva, rodeada de um lado por cercas e da outra pelas vistas de uma pequena escultura de Iemanjá, teve que ser rápida, pois logo um funcionário ligado ao grupo Brennand veio intervir e exigir a saída do grupo. Seguiram então para a próxima parada: Suape.
A região vem sendo impactada pelo Complexo Portuário de Suape, polo de indústrias incentivado pelo governo do estado e federal que já trouxe diversos malefícios ao dia a dia de comunidades tradicionais pesqueiras do local. O conglomerado, de forma desordenada e sem respeitar o meio ambiente e os direitos de populações locais, avança na região alterando não só a paisagem, mas o modo de vida e toda a cultura milenar desses grupos. O pescado está diminuindo, 200 hectares de manguezais já foram suprimidos e a projeção é que esses impactos aumentem.
O presidente da Colônia Z 8 do Cabo de Santo Agostinho, Laílson Evangelista, conduziu o grupo em um visita de barco pelo entorno. Aqui, quem vigiava o grupo eram os grandes navios dos Estaleiros, as fumaças vindas dos Hotéis e o pouco que resta dos manguezais.
Para a secretaria executiva do CPP, Maria José Pacheco, a vinda dos jornalistas alemães foi relevante para que os conflitos que envolvem as comunidades tradicionais pesqueiras de Pernambuco sejam conhecidos fora do país. Essa visibilidade denuncia e chama a atenção de outros atores para a causa das comunidades pesqueiras do Brasil.
“A visita foi muito importante, pois significou uma oportunidade de visibilizar as situações de violações dos direitos dos pescadores/as. Foi fundamental conseguir mostrar para fora do país que esta visão de que o Brasil está em pleno desenvolvimento, 6ª economia do mundo, é à custa do sacrifício de comunidades inteiras e do meio ambiente em que vivem, da tentativa do extermínio cultural, da negação e do esforço em invisibiliza-las para, assim, retirar o território tão precioso para a existência destas comunidades. Essas populações são valiosas para a sociedade brasileira e para a humanidade como um todo, pois são responsáveis por manter relações de convivência com os recursos naturais, protegendo um patrimônio ambiental mundial e garantindo a soberania alimentar”, comenta Maria José.

 Fotos: Armele Dornelas.






 

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